terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Earth to Bella...






Isso ja faz alguns meses, então me perdoem a ausência de alguns detalhes.
Estava absorta em meio aos meus pensamentos no fim de uma quilométrica fila de banco, perdida e avulsa pensando nas musicas que tanto ouço, livros, filmes e todo o resto que me permita perder alguns minutos para refletir. Quando escuto atrás de mim uma voz feminina e hiperativa:
-Ainda bem que você está aqui! Assim poderemos conversar finalmente!
No mesmo instante sou arrancada dos meus devaneios e olho para trás, mesmo acreditando que aquela frase não deveria ter sido para mim. Ao me virar dou de cara com uma moça que merece ser descrita como sendo: ruiva, estatura mediana (da minha altura, com um salto oito), cheia de sardas, um sorriso incrível, magra e com um estilo normal, nada gritante para se mencionar.
E é isso, olho para ela com uma cara: "é comigo? se for é engano". Ela sorri e me abraça. Olho para ela com uma cara do tipo: " me solta maluca, psicótica, lunática e bizarra!". Ela gargalha e fala:
-Você nem sabe quem eu sou, não?
-É... Ham. Como posso dizer. Eu nunca te vi na minha vida. E tenho absoluta certeza disso.
-Mas eu te vejo já faz um ano, todos os dias.
-Onde? (E agora que eu acordo e descubro que isso é um pesadelo? agora? agora? Acorda!)
-No ônibus! Você pega o mesmo ônibus todo dias às onze da noite. Sei onde você sobe, onde desce... só queria saber por que você presta tanta atenção naquele bar.
-O bar? é...ham... É que eu conheci uma pessoa que freqüenta o lugar, alguém que mesmo eu dizendo que odeio... Adoraria ver. (termino a frase já com o rosto em chamas.) É parece que você tem me visto por aí mesmo... (dou uma risada sem graça e coço a cabeça, desgrenhando ainda mais o meu cabelo).
-Nossa! Vejo-te sempre. Você sempre com fones, a bolsa verde onde carrega os livros e tenho um apreço especial pela sua camisa vermelha dos Beatles.
-Nossa! Você deve ter percebido que sou um pouco distraída, por isso eu nunca vi você ou qualquer outra pessoa do ônibus.
-Percebi sim! Sempre perdida olhando pela janela, ouvindo musica ou lendo! Estes tempo você estava lendo um livro o "Maktub", me obriguei a comprar pra ler também. Achei maravilhoso!
(Com uma cara de espanto)-Bom, este não foi um dos melhores livros que eu já li na minha vida... mas é sempre bom ver amores que dão certo, mesmo sendo apenas na literatura.
-Falando em amores! Você não está mais noiva?
Eu olho para a minha mão direita, enquanto penso na insanidade desta conversa me lembro do fato de eu nunca ter sido noiva:
-Mas eu nunca fui noiva!
-Como não? Tinha uma época que você usava uma aliança dourada na mão direita.
-Eu usava? Jura? Claro! Usava sim! Uma tríplice aliança de ouro. Mas é coisa de família, nada que envolva amores e compromisso.
(Ela gargalha) - Que pena! Porque eu sou!
(Ela estica a mão para que eu veja a sua algema, ou se preferirem aliança, dourada na mão)
-Que bom pra você né fofa? (escorreu sarcasmo pelos meus dentes).
Quando do nada ouvimos:
-Próximo!
Aleluia! É a minha vez!
-Tchau fofa! Nos vemos! A propósito, meu nome é Tatiani. (estendendo a mão). Muito prazer!
Ela olha para mim com uma cara de espanto e do nada, cai na gargalhada sozinha. Quando para, também estende a mão:
-Tatiane Machado, prazer Tati!
Ô Destino sacana!
...
Depois disso eu saí do banco com estranhas sensações, coisa estranha mesmo.
Me senti bem por ser percebida em meio a tantos desconhecidos, em ser notada mesmo aos finais de noite, com uma cara de cansada, uma bolsa cheia de livros e cadernos e sonhos escapando pelos bolsos. Mesmo assim percebida. Confortante isso.
Porém, sempre há um, porém!
Saí de lá me sentindo espionada, analisada e criticada por pessoas que eu nunca vi, nunca vou ver e quem dirá conversar. Acessórios observados de forma minuciosa, roupas visualizadas e decoradas e leituras plagiadas. Saí com uma nóia nova.
...
Admiro a moça pela sua boa vontade, seu sorriso lindo e sua sinceridade. Uma pessoa que faz bem conversar e rir um pouco todas as noites. E é por isso que comecei a conversar com ela todos os dias, durante todo o restinho de ano que tínhamos...
Mas teve um dia que ela não resistiu e me perguntou:
-Tati, por que você começou a andar de capuz depois que nos conhecemos? Você não tinha esta mania pelo que eu me lembro.
Eu olho para os dois lados, vejo se não tem ninguém vigiando:
-Nada não Tati, só precaução. Só precaução.
...

E se ela ficar assim, assim
E se eu lhe entregar meu coração
E meu coração for um quindim
E se o meu amor gostar então
De mim?
Chico Buarque.

7 comentários:

duarte disse...

É, sabe que estas coisas, como a conversa que tive sábado de noite com minha amiga Cássia, parece que só existem em filmes. Porque mesmo que a gente imaginasse, não conseguiria reproduzir.

A propósito da menina ruiva, é assim mesmo, às vezes a gente descobre que há alguém observando a gente e a gente não sabe, mas isso não ruim não rsrsrsrr

Anônimo disse...

"E se meu amor gostar então
De mim?"

Sabes responder?

Avid disse...

Eh...
Verdade ou consequencia?
Bjs meus

Geminiana Doce disse...

Oi Toop...Estava sumida daqui né??
Vida de artista é dura...rsrs
Sempre gosto do que escreve..viajo lendo!!
Bjos e luz

O Profeta disse...

Tens uma elegância incomum nas palavras...

A chama que explode na noite
Consumiu a palavra dispersa
As virtudes do som das águas
Ouvem-se na manhã que começa


As palavras também se sentem no silêncio
Convido-te a ouvir as minhas


Doce beijo

Anônimo disse...

Adorei este, muito leve...precisava de algo assim hoje!
obrigadaaaa
bjussss

TIAGO ENES disse...

Oi

O Blog tá muito legal!
Bons posts!

Parabéns!

Abraço!


Se puder visite!!!

http://tiagoenes.blogspot.com/