sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Com o vício do tempo.


Me lembro perfeitamente que antes tudo era sufocante, difícil e impossível. Coisas de quem viveu um amor doentiamente e depois conseguiu se curar, aos poucos, com os meses e doses de outros amores. Tudo passou com o tempo.
E precisar doentiamente dele doía, machucava, mal tratava e mesmo assim era extremamente necessário. Me sentia doente longe, mas infeliz perto. Triste por não conseguir controlar a minha vida, por perder a rédeas da certeza que sonhava quando era mais jovem. Tudo virou nada por uma aventura.
Eu era cega de paixão. Doente pelo vicio que me era negado e às vezes me sentia agredida pela incompreensão alheia, ninguém conseguia entender que eu precisava daquilo pra viver. Nada importava, todos os meus impulsos conscientes e inconscientes me jogavam àquela direção.
Me arrancaram as certezas e vícios, me deram rotina, novos corpos e me resignei a me contentar com a nova realidade que me era apresentada como correta. Eu queria o errado, desvirtuei o exato para sentir aquele gosto de loucura outras vezes. Muitas outras vezes, em muitas posições, em muitos lugares e quase sem pudor da descoberta.
Errei mil vezes.
Depois a vida me deu um soco no estômago, um chute nas costelas e fez o que de melhor ela faz: Tirou-me alguém que eu amava. Fez o que quis de mim e depois me deixou virada do avesso para tentar reconstruir o que sobrou de mim, por aí, os cacos espalhados e soltos para serem juntados.
Tomei jeito, tomei prumo e vergonha na cara.
A loucura e egoísmo passaram, só a saudade ficou. Marcando fundo o compasso da minha solidão, pois quando você perde alguém de verdade, você sempre vai se sentir sozinho no mundo... Em qualquer parte dele.
E daí eu amei menos, me cuidei mais, vivi menos, trabalhei mais e conheci pessoas. Fui adulta.
Aprendi com o tempo e o tranco, que para amar eu precisava ser saudável e viva. Deixar viver, respirar e principalmente: respeitar.
E não me sinto mais doente, obstinada e nem nada que lembre o que fui. Sinto que não preciso de ninguém para poder viver, mas diferente de antes, quero aproveitar os bons momentos e ser feliz com alguém. Que mesmo sendo a origem da minha doença inicial, hoje é todo o antídoto. 

Imagem de Daniel Pearso.
:)

5 comentários:

Thalita Clemente disse...

Lindo texto... e é quase isso que sinto...

=D

Marii Magalhães disse...

Lindo texto, na vida os melhores momentos momentos são aqueles em que seguimos adiante. Porque vemos que o que nos mantinha mais vivo, nos tornou mais forte

Bjs

Mayquel disse...

Será que é um trajeto obrigatório?
Não, não deve ser.

Mayquel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
paulo disse...

Nada como um dia depois de outro.
Devemos usar as experiências para crescer e é isto que o texto passa.