Me lembro perfeitamente que antes tudo era sufocante,
difícil e impossível. Coisas de quem viveu um amor doentiamente e depois
conseguiu se curar, aos poucos, com os meses e doses de outros amores. Tudo
passou com o tempo.
E precisar doentiamente dele doía, machucava, mal tratava e
mesmo assim era extremamente necessário. Me sentia doente longe, mas infeliz
perto. Triste por não conseguir controlar a minha vida, por perder a rédeas da
certeza que sonhava quando era mais jovem. Tudo virou nada por uma aventura.
Eu era cega de paixão. Doente pelo vicio que me era negado e
às vezes me sentia agredida pela incompreensão alheia, ninguém conseguia
entender que eu precisava daquilo pra viver. Nada importava, todos os meus
impulsos conscientes e inconscientes me jogavam àquela direção.
Me arrancaram as certezas e vícios, me deram rotina, novos
corpos e me resignei a me contentar com a nova realidade que me era apresentada
como correta. Eu queria o errado, desvirtuei o exato para sentir aquele gosto
de loucura outras vezes. Muitas outras vezes, em muitas posições, em muitos
lugares e quase sem pudor da descoberta.
Errei mil vezes.
Depois a vida me deu um soco no estômago, um chute nas
costelas e fez o que de melhor ela faz: Tirou-me alguém que eu amava. Fez o que
quis de mim e depois me deixou virada do avesso para tentar reconstruir o que
sobrou de mim, por aí, os cacos espalhados e soltos para serem juntados.
Tomei jeito, tomei prumo e vergonha na cara.
A loucura e egoísmo passaram, só a saudade ficou. Marcando
fundo o compasso da minha solidão, pois quando você perde alguém de verdade,
você sempre vai se sentir sozinho no mundo... Em qualquer parte dele.
E daí eu amei menos, me cuidei mais, vivi menos, trabalhei
mais e conheci pessoas. Fui adulta.
Aprendi com o tempo e o tranco, que para amar eu precisava
ser saudável e viva. Deixar viver, respirar e principalmente: respeitar.
E não me sinto mais doente, obstinada e nem nada que lembre
o que fui. Sinto que não preciso de ninguém para poder viver, mas diferente de
antes, quero aproveitar os bons momentos e ser feliz com alguém. Que mesmo
sendo a origem da minha doença inicial, hoje é todo o antídoto.
Imagem de Daniel Pearso.
:)
5 comentários:
Lindo texto... e é quase isso que sinto...
=D
Lindo texto, na vida os melhores momentos momentos são aqueles em que seguimos adiante. Porque vemos que o que nos mantinha mais vivo, nos tornou mais forte
Bjs
Será que é um trajeto obrigatório?
Não, não deve ser.
Nada como um dia depois de outro.
Devemos usar as experiências para crescer e é isto que o texto passa.
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